rasgos de ternura







rasga-se
de-mais
a ternura em
saudades .feras .em palavras
a que as lágrimas
- causa e efeito
- sucumbem como
gritos sufocados
num a-deus resistente
ao último minuto
.as horas querem-se de
memórias
.assim o parto a que o silêncio
se obriga
em tempo de vitimização






william blake richmond







atrofias temperadas pela chuva







é em dias de chuva e vento que
os meus dedos se recolhem
mais facil mente
às canículas .solfejam-nas no
diabolismo dos motejos e se
se perdem nas veredas de
outras margens tendem
a sufragar os lampejos da poesia
.arrojam-se pelo chão porque
na escrita
são pesadas as correntes
sustidas pelo desassiso ou pelas
atrofias temperadas dos
salpicos astrosos .acrescem coágulos
neste desnorte de tempo assistido
pelo desasnear da chuva cujo vento
os precipita ao sabor de um tempo
mecânico






william blake richmond







manifesto em fim de acto







reservo-me ao apocalipse dos a-deuses
transcritos em contra-mão .um relógio
marca os segundos .tic-tac .tic-tac
.volúpia de um registo ou um epitáfio
agregado ao mistério de uma tarde
macerada pelo ritmo da leveza
.há uma nostalgia mimética
na opacidade dos dias quando
a leitura dos signos se perde no
vagueio pelo efémero .nada
.nada como o olhar vago do
fantasma em irrisório fim de acto .nada
.nada como a máscara re.posta
na palidez de um rosto
enquistado na cupidez






william blake richmond







enquadra-se o beijo na moldura dos des.ajustes







cedo se cerram fileiras face
ao choque inesperado do galope
.desenfreado
.dos cavalos a que a respiração
cortou o sobressalto
.restos de corpos acendem o recado e
o tempo passa .inexorável
.dos cavalos a retórica
.dos homens a enxúria
.ignominioso gosto que se prolonga
.testemunho rendido à súplica que
ventila o dia .carnoso
.não interessa
.como declínio res.guardam-se
pedaços de carne .corpos de
boca acesa pelos vermes
que os aquecem .assim
o beijo bem-quisto do
último amolador de facas






william blake richmond







a dúvida e o contraditório







e agora?
que faço da água que me tem escrava do ser-maré?
do vento-ladrão?
da chuva que em profundo des.acerto
incita o meu regresso ao útero-materno?
vigio a presença do breve
.se escrevo
aponto os dedos para o cursor molhado
.cercam-se os ritmos
.as bátegas conflituam a vigília que
se quer já seca
.até o parêntese .apesar de breve .apesar de
logo se exigir a rendição da chuva
.desisto .melhor assumir a queda de água
como prenúncio
breve de uma razão maior
.um aceitar a borrasca como um bem necessário
.porque não malsão?






william blake richmond







nem tudo são rosas ,Senhor







retrocedo
devagar mente
para valsar a epimania dos Amantes
apócrifos






william blake richmond







a “sua” password foi alterada








ao homiziar os percutores
há que demandar ao absurdo
os expectáveis pontos de resistência
.ninguém é uma simples
equação matemática
.a ninguém se questiona a legitimidade
de Ser-um ritmo de ambições
.o estádio superior do conhecimento
exige movimentos figurados de unicidades
comuns à truania de
por trilhos e veredas
atingir o ponto de não retorno
.torpedear valores
consignados pela inhumana e
gélida metamorfose passa a ser
a password daqueles que
se têm como laudatório de
conflitos ou eutanásia de princípios






william blake richmond







apraz-me o resmungo da noite







é de noite que resmungo
a temperança de me saber escrita
.credível ou não
.tempero de aleurismas
.augúrio de constructos
.é de noite que insinuo
a crispação das cores
como é de noite que tardo
o tempo de renovar o in.tocável
.é de noite que envolta em vário matiz
assinto o passadio do nu e
hoje
serva de epifanias
mastigo o som do silêncio
(con)sagrado só para mim 






william blaker richmond







a hora do lobo







cheguei à hora do lobo
.pedi-lhe por empréstimo a audácia
.a extrema solidão
.abri o peito à teimosia de
me haver em fim de tolerância e
fiz das unhas garras de extermínio
.desprendo os fios que a morte deixou
pendurados à boca do vento
.ousei-me in.sepulta nos dias que
perseguem o meu a-deus
ao tempo das saudades maiores e
quero-me em noite de rescaldos
cansada do
insólito das vozes dis.sonantes






william blake richmond







exige-se o expurgo do hoje







é ao som do violino que procuro
a forma de rechaçar o cérebro .de
abri-lo e perceber que o tempo
é a forma conceptual de esgrimir
o amanhã .assentar o barulho
.passar de um modo de cimentar
o equilíbrio com a paragem
do igual mente exigível
.um pousio não desejado fomenta
o des.interesse .a apatia contradiz
a vontade e os minutos desprendem-se
in.orgânicos .seguros pelas horas e
pelos dias .i.norgânicos
.as vozes circundantes tornam-se
turbulências não desejadas
.nada é mais exigível que o expurgo do
agora repetido à exaustão






william blake richmond







um des-abraço moribundo







Pietà .a dor de Maria soluça
o des-abraço do filho moribundo
.invade-se a dor no colo de
uma mater amargurada
.os braços distendem-se
num des.apego de morte e
o rosto transige a aceitação de
uma mulher com o de.gelo nos olhos
.já não chora .cansaram-se as fontes
ao debelar o ritmo encenado
de uma vida presa
aos invernos carnais .assim Maria
.a marmórea Pietà
a quem Michelangelo elevou
ao sagrado .a mater-donzela ou
a fêmea-mátria eternizada
no mármore das acres viuvezes






william blake richmond







à proa de um barco imaginário







deambulei ao ritmo alucinante do
vazio à proa de um barco cujo arpoar
me é chegada em tarde plúmbea
.vaticinei fluentes e derrames
ao capricho de um brincar
ao esconde-esconde que ora acolhe
ora rejeita em jogo de resguardos
certa que é na alquimia dos sobressaltos
que me deixo afrontar pelo levante de
ramos e remos cuspidos pela tormenta
.náufragos de um des.fazer cegueiras
assentamo-los mar-adentro
enquanto mar-afora a destruição
arvora gargantas onde a angústia arroja






william blake richmond







sobre um chão cravado de improvisos







assim a placidez temperada de
um acrescentar levezas aos coágulos de
pó abandonados sobre as vigas do
meu sossegar mais brando .visgo de
vinho tardo largado
disfarçada mente
sobre o meu corpo muda a voz
turvo o ventre como menosprezo de
um diálogo concebido entre o ruído e
o silêncio .amanhã serei mosaico
se a parede permitir ou ruga se o cetim do
meu vestido sopresar rendilhados
sobre um chão de
ensopar disfarces cravados no
cardápio dos deveres






william blake richmond







no rescaldo do tempo moribundo







calam-se os choros .apagam-se as vozes e
o chilreio dos pássaros perde-se
na implosão da tormenta .os meninos
esquecem as gargalhadas nas algibeiras dos
casacos e o silêncio regressa após
o estrépito .é o domínio da retoma
.do livre alvitre .no útero da
terra-mãe adormece a angústia
.é hora dos sinais se re.agruparem
enquanto o canteiro das peónias
(con)sentido ao fundo do quintal
– re.assume na evidência da sua pequenez
o papel de dignitário






william blake richmond







em consistório final







especial mente
hoje em que as horas se arrastam
ao sabor do vento angustio a vontade de
concatenar o despresso da luz
.fecho portas e janelas .as frinchas
espaçam pelas paredes e os cantos
mais recônditos da casa
implodem com a tormenta e os trovões
.o vento é malsofrido .nervoso
.senhor da noite .da manhã .da tarde
.ressoa em demoníaco cercado e
tarda no arrasar os limites
.a turbulência supre o exclusivo
em consistório final






william blake richmond







a cumplicidade num estender de mão







gosto de me perder no olhar do cão
.ansiá-lo no estender a pata .alongar
o corpo e ressonar os vivos com olhos
vagamundos .pouso a minha mão
sobre a sua cabeça no mistério cúmplice
de um olhar terno .recolho a mão
enquanto as costas se me despedem
num até logo à guarda da ausência
.entre ambos a simbiose perfeita do
aconchegar a eficácia dos gestos
permitidos .de recebê-los à boca do
(con)sentimento
.eu perco-me na opacidade do atravessar
a tarde em busca de novos andamentos
.o cão lambe as forças conjugáveis de
um estar assim
.mais nós






william blake richmond







horas mortas ao serviço do demo








não encontro entre o sossego do cão que
me espreita do outro lado da janela e
o espectro da hora de chorar os vivos
verosimilhança ou arrojo
.um descansa a cabeça sobre as patas
dianteiras como se a vida lhe houvesse
por direito
.um levantar assumido
em gestos simbólicos .um advir ao ritmo
de quem vive tranquilo
.vigílias deixadas ao poente
quando os espectros lançam os dentes
sobre a perfídia crivada por crises de
humanidade .abandona o cão a serventia
do impulso
.o humano deixa-a conflituar






william blake richmond







dias de não-e-não







um velho suicidário e louco
despede-se
dos dias em não .uma mão cheia de
vergônteas sobressai enquanto
no fim da tarde as sombras
revestem os lugares de prece .e
é nestes dias
de não-e-não que as crianças se
modelizam de velhos e
estes de jovens aprendizes
trocadas as voltas à morte .é aqui
neste espaço de vento que
sopram laivos de poesia
.trípticos acordes .álgidos cantos
.revelos de um sobre-viver infame






william blake richmond







de.jejum forçado







é aquele o preciso momento
em que a máscara cai .olho-a
.re.coloco-a ou licencio-a?
demite-se através do silêncio
dos seus não-olhos num defraudo
já saudoso  .invade-me o tempo
de desfazer vertigens .com a mão
esquerda des.ordeno-me nos cabelos
de Medusa .abocanham-me
.com a direita esculpo-me em pedra e
nas folhas de papel amarrotadas
sobre a cama onde as serpentes dejectam
devagar mente
.tenho pressa de futuro .ergo a máscara e
adapto-a porque o tempo
- deputo de incisão
– insinua-se como galanteio
onde a entrança de.jejua






william blake richmond







falta de espaço e algo mais







sofro de insónias .rendo-me .como plágio
de um assorear de rio .de um lavar de loiça
ou mãos face à confusão da minha dor de
cabeça .não me assoo .deixo a água escorrer
pela minha face e não sei se são lágrimas
se gotas
a áspera quietude que desliza ao encontro
do nojo que a minha boca assiste .doem-me
os dedos .as mãos negam-se a legitimar .razão porque
ensandecida
me acerto neste cortejar em transe .sento-me no
sofá dos segundos e assisto com flores azuis
implantadas nos cabelos à derradeira sinfonia de
Antonín Dvo
řák
.falta-me
espaço
perdido o rumo entre a serventia de um beijo e
o meu corpo pendurado no bengaleiro das
ausências






william blake richmond







improvisos memoráveis







e é neste silêncio rente à trégua
que te adoço madruga num profanar
certezas .múltiplas .como o rasurar a
voz face ao delírio das contradições
.aqui onde a terra vaza e o mar resiste
à in.tolerância das ondas esculpidas
na arrogância do erro .a areia
rival de acasos
quieta as lágrimas como
improviso bastante
para na espuma ancorar o último a-braço
da memória






william blake richmond







oração pagã







versai – senhor – sobre a misericórdia divina
e orai por nós
.orai pelos escravos que em vosso nome
ao fel recorrem como veneno assaz voraz
.orai pelos profetas que em álgidas
palavras espalham a morte em gongorismos
gólgotas e afasias
.orai pelos déspotas que em nome de Lusbel
e vãs glórias
vendem galáxias e
pelos loucos que esventram povos como recurso
a um deus maior
.orai pelos lobos famintos que em
chão-aberto acendem cílios em santuários
embutidos em verdades questionáveis e
orai - senhor - por todas as Potestades
em perpétua negação
regadas com Portos-Velhos e convenientes
apertos de mão






william blake richmond







a fabilidade do presente








augustos textos transcendem
no húmus a leveza de um pre-texto
que exulcera o rasgo .osmose de
aços presa nos primórdios de um
tempo in.glório .nos corpos transmutados
o nevoeiro esmaga um novo alfabeto
de silêncios .alguém ousou fazer das
fronteiras roteiros de violência e o
esmagamento da espécie é um outro
pre-texto para subestimar os egos
.calam-se as consciências em concertos
de solidariedade e os semblantes da morte
coagulam no sangue os ventres
violados .das feridas sobram vísceras
suturas de benevolência a que os
obituários glorificam em salmos






william blake richmond







não há pre-textos para o abandono




( natal de 2018 )





agora a fabilidade assenta quando lázaro se acerca e
na mão esquálida esconde o beijo da ausência .silêncio
esconso que não acalma o grito .dói .a lágrima escorre
.agarra-a o chão único presente que a culpa inverte
numa fotografia a preto e branco .talvez vinil .talvez
acesa como o sudário .rasuram-se as lágrimas no bálsamo
que a mágoa esconde .dói .dói o nunca mais menino






william blake richmond








.4

























[ à fabilidade do pre-texto] 
























feridas maduras esquivas no vento







e agora
será que os ecos ressoam no ralho do vento
ou o ralho do vento
ressoa qual eco ferido?






vladimir dranitsin







tarde de mais num cedo de menos







que se calem as feras .que os esconjuros
se danem .que crepitem as trevas nos
olvidos do tempo .tentaculares são os
cenários que se abrem ao futuro
incerto o modo de agilizar as memórias
.retidos num presente-ausente enterram-se os
gansos e o húmus que na tardança se apronta
levita entre o ruído-vão e o grito-calado
dos que no medo se assemelham ao desejado
.não há credos .não há senhores nem asnos
.há insígnias .medalhas ou coágulos
dum arvorar o mistério .sangue e revolta
a esmagar a leveza dum serenar o sol
num peito gelado






vladimir dranitsin 







resíduos de um por-de-sol tardio








há nas âncoras resíduos de ausências
e nas sombras restos de granizos a que
os rostos se vedaram como graníticos
fermentos .há logros in.conciliáveis nas
mãos dos homens e os vendilhões
pousaram a-deuses sobre as línguas a
que ousaram chamar viperinas .ninguém
granjeou o envelhecimento que a
experiência moldou como ninguém ousou
o a-braço deixado à porta da casa dos
credores .nos códigos se alienaram os
remoinhos que a voz da água silenciou
qual benesse duma rendição não impressa
enquanto
no voltear a face
há resíduos da barbárie nas mãos
mendigantes .há gestos calados a sufragar 
a dança






vladimir dranitsin







sussurros ir.repetíveis em várias sonoridades







vendo facas .colho amoras .verto-me em
toneis de vento e
em véspera de afastamento
inventario os anos agastados pelas mãos
a que a pátina do tempo deixou silêncios
em vez de falas .dirijo o canto dos ciprestes
em direcção ao verso e rasgo páginas em
vez de notas






vladimir dranitsin







pérfidos peregrinos de coisa alguma







e é neste conflituar de afastamentos
que me demoro além das sombras
perto do re.negar o nome .do branquear a
morte .do respingar o vazio .raso - desejam
os inquilinos dos sonhos – pérfido – os da
terra vassalos .havidos num derramamento
assistido pela incúria
dos viajantes do tempo
somos não mais do que passantes num
lacrimejar o pão
.vendemo-nos por um atulhar de bens e
curvamo-nos
cúmplices ao indizível
obliterando que o longe
mora tão perto de um morto abraçado ao
nosso corpo porque senhores de nós
prendemo-nos ao vernáculo
intemporal
de uma mão cheia de nada
outra de coisa nenhuma








vladimir dranitsin









parêntese raso de afonias







ledo
o cerzir de.moras
deixa pétalas de rosas no capim do tempo .são grinaldas
de um agonizar a flor
argumentos febris no fermentar o dano
.tenho medo - senhor – diferem o mal-querentes .símbolos
frívolos de um aparentar a sorte






vladimir dranitsin