desossar (con)sentido







nada pode parecer mais contundente
que o ralho do vento .equilíbrio oscilante
de um des.acordar falácias numa sequência
de prantos ao abrir a noite .solfejos de
folguedos relevados por cortinas de
fumo
tendencial mente
re.conhecidas pelo negrume de uma vontade
perpendicular
.então
-e só então-
agraciado o erro
esquecem-se os enganos
num pedalar de esforços entre as nuvens e o sol
onde os meninos-migrantes secam os crânios
porque a vida não é senão um desossar
de traumas a fazer de conta






vladimir dranitsin







serviço “à la carte”







não sei onde me tenho
nem se a tardança pelos vocábulos
me trará uma forma outra de vocalizar
o dilate .presa às quatro paredes do
texto mergulho os dedos na tinta e gasto as
últimas gotas do azul em tendências
bizantinas e em experiências
alegada mente
marginais .não gosto de fazer jeitos
nem as minhas mãos se aceiram em gestos
mesureiros .perdida em terras do não
entranço poemas
em restos de carne que sirvo aos comensais






vladimir dranitsin







Ser-con-texto







é na in.fabilidade do não-ser-texto que
mergulho no lirismo dos
verbos
fiel ao reverso das invocações que
me fascinam .elejo em alma cantante
a diferença e faço do sortilégio dos
antagonismos o espelho dos escritores
malditos .deles herdei a cumplicidade
fraterna de um difícil sorriso para
em celebração
no dia final
erguer a taça à poesia
- afrodisíaco sinónimo do Ser-con-texto





vladimir dranitsin







.3

























[ a in.fabilidade do não-ser-texto

(em) um novo regresso à matriz ...] 
























.2








(…)
Hoje, passada a madrugada, continuei o dia com a minha parte mais sombria; soltaram-se-me as minhas recordações, presentes, passadas e futuras, e não encontrava caminho linear entre elas.

Não só importa escrever sucessivamente, mas saber quem me sucederá numa constelação de sentidos.

O que é a descendência?

A seiva sobe e desce numa árvore, estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem significação de dicionário, não transmigrou para nenhum livro.

Agora o sol, o solo, a solo, encadeiam-me nas palavras      Esta madrugada aproximei-me da certeza de que o texto era um ser.



Llansol, Maria Gabriela, um falcão no punho -
Diário I, Lisboa: Edições Rolim, 1985.




(…)
.ardem os vocábulos .elegem-se
as diferenças num apagar de restos e Salomé
exige a cabeça de João Baptista sob o olhar
in.operante da turba
.morre-se de morte apagada
neste oscilar de fontes e os versos
eternos espelhos de uma indiferença mortífera
re.pousam maltratados na canalhice de quem
os quer anavalhados .outros escritores de
memórias
- que não eu
cansada de complacências
-
levantam na cumplicidade de um raio o
sobreviver ao holocausto da escrita
enquanto
o sulco fraterno estabelece pontes entre os
moribundos .deixo-me embalar num sorriso
triste e digo-me que não volto atrás rendida
à in.conveniência do momento .sobram retalhos
.acende-se a viagem .arrisca-se a celebração
pagã de um a-deus .do poeta a sombra ou o
desgaste mutilado do verso que não chega



Martins ,Gabriela Rocha
in “anamnésis”,
(1º andamento
- do im.perceptível ao legível )








epígrafe







tarde ,tardinha os ecos ressoam e
o voo do falcão pres.sente-os



























.1











vladimir dranitsin







ressoam os ecos no ralho do vento

[ enquanto 
catarse ]