sussurros ir.repetíveis em várias sonoridades







vendo facas .colho amoras .verto-me em
toneis de vento e
em véspera de afastamento
inventario os anos agastados pelas mãos
a que a pátina do tempo deixou silêncios
em vez de falas .dirijo o canto dos ciprestes
em direcção ao verso e rasgo páginas em
vez de notas






vladimir dranitsin







pérfidos peregrinos de coisa alguma







e é neste conflituar de afastamentos
que me demoro além das sombras
perto do re.negar o nome .do branquear a
morte .do respingar o vazio .raso - desejam
os inquilinos dos sonhos – pérfido – os da
terra vassalos .havidos num derramamento
assistido pela incúria
dos viajantes do tempo
somos não mais do que passantes num
lacrimejar o pão
.vendemo-nos por um atulhar de bens e
curvamo-nos
cúmplices ao in.dizível
obliterando que o longe
mora tão perto de um morto abraçado ao
nosso corpo porque senhores de nós
prendemo-nos ao vernáculo
in.temporal
de uma mão cheia de nada
outra de coisa nenhuma






vladimir dranitsin







parêntese raso de afonias







ledo
o cerzir de.moras
deixa pétalas de rosas no capim do tempo .são grinaldas
de um agonizar a flor
argumentos febris no fermentar o dano
.tenho medo - senhor – diferem os mal-querentes .símbolos
frívolos de um aparentar a sorte






vladimir dranitsin







no copejo do longe







são nódoas as marcas que trago nos meus
andrajos .inseridas em cordões e baldas .matizes
em ponto-cruz onde
dizem
o filho do deus maior
afrontou o cinismo dos doutores-da-lei .não houve
medalhas .não houve ralhos .houve mercês e actos
de conveniência traduzidos em moratórias de
um sofrimento quase presente .o corpo
de olhos cegos e farpas abertas
foi casa de esculpir o tempo .sepulcro de cansar
o sangue onde Maria
sua mãe e
Madalena
sua mulher
sagraram as mãos no vértice do vento em
cuja rajada calaram
a cumplicidade cobarde de um povo tão certo
do mesmos erros quanto
agora






vladimir dranitsin







saudades marinheiras







do mênstruo rastejante há quem se reduza
ao cinismo da cegueira ou na
mesma afie facas .prontos a abocanhar o
soldo
cedem os lenhos nas alçadas dos mastros
e os marinheiros
soltos de alto
vergam-se ao olhar do mestre que no vento
lhes aliena o ralho e o ágio .algas
saudosas prendem-se à proa dos barcos e
ao leme
o marinheiro imprime uma cicatriz de cinza
ao marulho do mar .confortos de outros
portos .ou talvez não .antes moradas de
aguadas que os anos rasaram e os corpos
adiaram em implantes e memórias






vladimir dranitsin







o cansaço e o medo







sento-me na balaustrada do tempo
e deixo o meu corpo-águia
murmurar cantos de sobrevivência
.o ecos ressoam
destros e
sob a copa das árvores os cães
demandam um pouco mais de luz .dos
homens há cinturas de água penduradas
em andarilhos e os animais imprimem
gotejos de chuva na alçada de um outro
lugar que não o medo .regressam com
a noite os demónios menos ousados
já que os demais
raso o nevoeiro
cansam-se na geometria da água que
lhes serve de rasura ou rasgo






vladimir dranitsin







caminhos cruzados







é no limite entre a ardência e o ranho
que se matiza a aritmética do verso






vladimir dranitsin







cegueira a quanto obrigas







agora
um pouco mais de sol .um pouco mais de gente
para gastar o frio das palavras que escorrem
pelas ruas
.agora
um pouco mais de nós
para regular o sentido de um texto que
nada tem para dizer
.agora
um Ser-talvez-poema
nomeado só por dedos
no re.verso dos primeiros dias cegos pelos
segundos






emilie preyer







o vazio in.operante das horas







outrora houve rios que correram
pelo meu corpo
quais tecidos veias vagas e plantas
.foram palavras viscerais que a maresia cobriu
de mantos e sussurros escreventes .foram
rasgos
quais barcos navegantes
hoje silêncios estendidos pelos
poros que lhes serviram de lastro .foram névoas
que a madrugada transmigrou para dentro de
um livro de horas face às in.certezas e aos
desvarios que no meu corpo ocorreram .talvez
amanhã outros rios busquem o mar .talvez
as palavras tenham um novo significado e
os silêncios de hoje sejam litanias de um futuro
por nomear






vladimir dranitsin







traços e memórias







cumpri na sombra o desiderato dos dias e
dela recolhi os traços das minhas
memórias para nas madrugadas dos dias seguintes
agastar-me no fluído das aparências
.nada foi deixado ao acaso neste meu acordar
de sentidos .os pássaros tridimensionais migrarem
do lugar das transparências para as opacidades
não (con)sentidas por Azrael e os actos falhados
retiveram-se num relevar de convenientes
sobre-vivencionalismos .agora
gasto o caminho
apenas uma réstia de sol num abrilar escrevente






vladimir dranitsin







brincadeiras de muito mau-gosto







brinco com o sobre-pesar da pena
oscilando entre a serenidade
do remansar o dia e o fascínio da
página em branco .tecem-se miríades
de violações em silêncios gritados
em cidades bombardeadas e em celebrações
de bem-querer
enquanto a miséria arrasa e a minha mão
oscila no pendular do ganho .há frustrações
no abandono de raivas quando o
Ser-texto vale tão só um
deslizar de enfado vertido o humanismo
para dentro de
um saco-de-plástico
abandonado como lixo
no oceano das vaidades mal-creditadas






vladimir dranitsin







desossar (con)sentido







nada pode parecer mais contundente
que o ralho do vento .equilíbrio oscilante
de um des.acordar falácias numa sequência
de prantos ao abrir a noite .solfejos de
folguedos relevados por cortinas de
fumo
tendencial mente
re.conhecidas pelo negrume de uma vontade
perpendicular
.então
-e só então-
agraciado o erro
esquecem-se os enganos
num pedalar de esforços entre as nuvens e o sol
onde os meninos-migrantes secam os crânios
porque a vida não é senão um desossar
de traumas a fazer de conta






vladimir dranitsin







serviço “à la carte”







não sei onde me tenho
nem se a tardança pelos vocábulos
me trará uma forma outra de vocalizar
o dilate .presa às quatro paredes do
texto mergulho os dedos na tinta e gasto as
últimas gotas do azul em tendências
bizantinas e em experiências
alegada mente
marginais .não gosto de fazer jeitos
nem as minhas mãos se aceiram em gestos
mesureiros .perdida em terras do não
entranço poemas
em restos de carne que sirvo aos comensais






vladimir dranitsin







Ser-con-texto







é na in.fabilidade do não-ser-texto que
mergulho no lirismo dos
verbos
fiel ao reverso das invocações que
me fascinam .elejo em alma cantante
a diferença e faço do sortilégio dos
antagonismos o espelho dos escritores
malditos .deles herdei a cumplicidade
fraterna de um difícil sorriso para
em celebração
no dia final
erguer a taça à poesia
- afrodisíaco sinónimo do Ser-con-texto





vladimir dranitsin







.3

























[ a in.fabilidade do não-ser-texto

(em) um novo regresso à matriz ...] 
























.2








(…)
Hoje, passada a madrugada, continuei o dia com a minha parte mais sombria; soltaram-se-me as minhas recordações, presentes, passadas e futuras, e não encontrava caminho linear entre elas.

Não só importa escrever sucessivamente, mas saber quem me sucederá numa constelação de sentidos.

O que é a descendência?

A seiva sobe e desce numa árvore, estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem significação de dicionário, não transmigrou para nenhum livro.

Agora o sol, o solo, a solo, encadeiam-me nas palavras      Esta madrugada aproximei-me da certeza de que o texto era um ser.



Llansol, Maria Gabriela, um falcão no punho -
Diário I, Lisboa: Edições Rolim, 1985.




(…)
.ardem os vocábulos .elegem-se
as diferenças num apagar de restos e Salomé
exige a cabeça de João Baptista sob o olhar
in.operante da turba
.morre-se de morte apagada
neste oscilar de fontes e os versos
eternos espelhos de uma indiferença mortífera
re.pousam maltratados na canalhice de quem
os quer anavalhados .outros escritores de
memórias
- que não eu
cansada de complacências
-
levantam na cumplicidade de um raio o
sobreviver ao holocausto da escrita
enquanto
o sulco fraterno estabelece pontes entre os
moribundos .deixo-me embalar num sorriso
triste e digo-me que não volto atrás rendida
à in.conveniência do momento .sobram retalhos
.acende-se a viagem .arrisca-se a celebração
pagã de um a-deus .do poeta a sombra ou o
desgaste mutilado do verso que não chega



Martins ,Gabriela Rocha
in “anamnésis”,
(1º andamento
- do im.perceptível ao legível )








epígrafe







tarde ,tardinha os ecos ressoam e
o voo do falcão pres.sente-os



























.1











vladimir dranitsin







ressoam os ecos no ralho do vento

[ enquanto 
catarse ]